O choque geo-estratégico
O provável declínio dos Estados Unidos e a emergência da China, Índia e União Europeia como principais ganhadores até 2020, segundo um relatório agora divulgado pela CIA. "Uma aliança União Europeia-China, apesar de improvável, já não é mais impensável", escreve-se, também, no estudo.
Jorge Nascimento Rodrigues, editor de Janelanaweb.com, Março de 2005
O mais recente relatório não classificado sobre geo-estratégia divulgado pela CIA conclui o que já é óbvio para muita gente: o facto político e económico mais relevante até 2020 é a "asiatização" da globalização e da balança de poder.
Trata-se de uma mudança radical - os mercados, as multinacionais, o poder internacional vão literalmente reorientar-se, para Oriente, em direcção ao que é designado por "potências arrivistas", China e Índia. "Esta mudança acarreta novos alinhamentos internacionais e uma ruptura definitiva com algumas das instituições e práticas do pós-2ª Guerra Mundial. As velhas categorias de Ocidente e Oriente, Norte e Sul, alinhados e não alinhados, desenvolvidos e em desenvolvimento poderão tornar-se obsoletas", afirma o relatório intitulado "Maping the Global Future", lançado recentemente pelo National Intelligence Council (NIC).
Índice de Poder
Países Cenários-base
Ano__________2010_____2015_____2020
EUA__________20,75____19,04____17,61
China________11,78____12,4_____13,37
Índia________7________7,2______7,4
Japão________6,5______6,7______6,2
Alemanha_____4,1______4,3______4,5
França_______3,41_____3,49_____3,56
Rússia_______2,7______2,7______2,7
Reino Unido__2,5______2,4______2,35
Brasil_______2,34_____2,15_____2,08
Indonésia____1,48_____1,49_____1,50
Espanha______1,24_____1,22_____1,2
Portugal_____0,25_____0,23_____0,22
Fonte: International Futures, simulação; ferramenta criada por Barry B. Hughes, professor da
Graduate School of International Studies, da Universidade de Denver, Colorado, EUA
Nota: O índice de poder é baseado em 9 indicadores relacionados com população, poder de
compra, uso da tecnologia, peso do governo, peso do poder militar e do nuclear.
A ferramenta de simulação abrange actualmente 164 países e foi lançada em Janeiro deste
ano.
Conclusões da simulação dos cenários-base
O "cockpit" da mudança
O relatório alvitra que nos próximos quinze anos poderá ocorrer algo similar ao que se passou aquando do declínio da hegemonia inglesa no final do século XIX. O Século Americano que pontuou todo o século XX pode estar à beira de um "choque geo-estratégico". "O 'cockpit' para a mudança global está na Ásia", refere o estudo. As duas interrogações abertas por esta transição são expressas deste modo: "Como é que a China e a Índia irão exercer o seu poder crescente e se o farão de um modo cooperativo ou concorrencial com outras potências no sistema internacional".
«Como é que a China e a Índia irão exercer o seu poder crescente e se o farão de um modo cooperativo ou concorrencial com outras potências no sistema internacional»
O estudo recomenda, ainda, que se sigam com atenção potências de uma segunda linha como o Brasil, Rússia e Indonésia, que "poderão reforçar o papel crescente da China e da Índia". O lado negro desta ascensão poderá ser, na própria Ásia, o disparo do terrorismo internacional e do separatismo no Sudoeste Asiático, bem como o atiçar de barris de pólvora ligados à divisão da Península Coreana e à integração de Taiwan na China.
A questão energética, com a dependência externa crescente da China e da Índia, poderá levar estas duas potências a um "activismo global" em procura de alianças estratégicas que garantam o acesso directo às regiões do petróleo (nomeadamente, Médio Oriente, América Central e do Sul, Bacia do Cáspio, África atlântica) e do gás (Rússia, Austrália, Indonésia). Pelo que a turbulência nesta regiões se poderá agravar, em virtude da reacção de outras potências que tradicionalmente consideram essas regiões no seu "quintal". O governo e as multinacionais chinesas seguem já hoje claramente esta orientação estratégica nas suas parcerias e investimentos directos, sublinha o relatório.
Os quatro ganhadores
Primeira: O índice de poder (calculado com base em 9 indicadores) revela que há claramente quatro grandes ganhadores no horizonte de 2020 - a China e a Índia, na Ásia, e a Alemanha e a França, na Europa.
Segunda: a Rússia conseguirá estabilizar a sua posição internacional continuando a explorar a janela de oportunidade energética (o seu domínio no gás natural), não entrando em declínio acentuado, ao contrário do que acontecerá com os EUA e Reino Unido. O Japão é, aliás, um dos "entalados" desta transição vivendo o drama de uma bifurcação de opções - "a certa altura poderá ter de escolher entre equilibrar o poder da China ou aliar-se a ela".
O relatório do NIC adoptou um método original de cenários apoiando-se em quatro narrativas ficcionadas.
Conclusões fundamentais do estudo
O provável declínio dos Estados Unidos e a emergência da China, Índia e União Europeia como principais ganhadores até 2020, segundo um relatório agora divulgado pela CIA. "Uma aliança União Europeia-China, apesar de improvável, já não é mais impensável", escreve-se, também, no estudo.
Jorge Nascimento Rodrigues, editor de Janelanaweb.com, Março de 2005
O mais recente relatório não classificado sobre geo-estratégia divulgado pela CIA conclui o que já é óbvio para muita gente: o facto político e económico mais relevante até 2020 é a "asiatização" da globalização e da balança de poder.
Trata-se de uma mudança radical - os mercados, as multinacionais, o poder internacional vão literalmente reorientar-se, para Oriente, em direcção ao que é designado por "potências arrivistas", China e Índia. "Esta mudança acarreta novos alinhamentos internacionais e uma ruptura definitiva com algumas das instituições e práticas do pós-2ª Guerra Mundial. As velhas categorias de Ocidente e Oriente, Norte e Sul, alinhados e não alinhados, desenvolvidos e em desenvolvimento poderão tornar-se obsoletas", afirma o relatório intitulado "Maping the Global Future", lançado recentemente pelo National Intelligence Council (NIC).
Índice de Poder
Países Cenários-base
Ano__________2010_____2015_____2020
EUA__________20,75____19,04____17,61
China________11,78____12,4_____13,37
Índia________7________7,2______7,4
Japão________6,5______6,7______6,2
Alemanha_____4,1______4,3______4,5
França_______3,41_____3,49_____3,56
Rússia_______2,7______2,7______2,7
Reino Unido__2,5______2,4______2,35
Brasil_______2,34_____2,15_____2,08
Indonésia____1,48_____1,49_____1,50
Espanha______1,24_____1,22_____1,2
Portugal_____0,25_____0,23_____0,22
Fonte: International Futures, simulação; ferramenta criada por Barry B. Hughes, professor da
Graduate School of International Studies, da Universidade de Denver, Colorado, EUA
Nota: O índice de poder é baseado em 9 indicadores relacionados com população, poder de
compra, uso da tecnologia, peso do governo, peso do poder militar e do nuclear.
A ferramenta de simulação abrange actualmente 164 países e foi lançada em Janeiro deste
ano.
Conclusões da simulação dos cenários-base
- China, Índia, Alemanha e França aumentam o nível de poder a partir de 2010
- Rússia mantém estável o seu nível de poder
- EUA, Reino Unido e Brasil diminuem o seu poder até 2020; os EUA de um modo muito acentuado
- Japão aumenta o nível de poder até 2015 e depois volta a declinar
O "cockpit" da mudança
O relatório alvitra que nos próximos quinze anos poderá ocorrer algo similar ao que se passou aquando do declínio da hegemonia inglesa no final do século XIX. O Século Americano que pontuou todo o século XX pode estar à beira de um "choque geo-estratégico". "O 'cockpit' para a mudança global está na Ásia", refere o estudo. As duas interrogações abertas por esta transição são expressas deste modo: "Como é que a China e a Índia irão exercer o seu poder crescente e se o farão de um modo cooperativo ou concorrencial com outras potências no sistema internacional".
«Como é que a China e a Índia irão exercer o seu poder crescente e se o farão de um modo cooperativo ou concorrencial com outras potências no sistema internacional»
O estudo recomenda, ainda, que se sigam com atenção potências de uma segunda linha como o Brasil, Rússia e Indonésia, que "poderão reforçar o papel crescente da China e da Índia". O lado negro desta ascensão poderá ser, na própria Ásia, o disparo do terrorismo internacional e do separatismo no Sudoeste Asiático, bem como o atiçar de barris de pólvora ligados à divisão da Península Coreana e à integração de Taiwan na China.
A questão energética, com a dependência externa crescente da China e da Índia, poderá levar estas duas potências a um "activismo global" em procura de alianças estratégicas que garantam o acesso directo às regiões do petróleo (nomeadamente, Médio Oriente, América Central e do Sul, Bacia do Cáspio, África atlântica) e do gás (Rússia, Austrália, Indonésia). Pelo que a turbulência nesta regiões se poderá agravar, em virtude da reacção de outras potências que tradicionalmente consideram essas regiões no seu "quintal". O governo e as multinacionais chinesas seguem já hoje claramente esta orientação estratégica nas suas parcerias e investimentos directos, sublinha o relatório.
Os quatro ganhadores
Primeira: O índice de poder (calculado com base em 9 indicadores) revela que há claramente quatro grandes ganhadores no horizonte de 2020 - a China e a Índia, na Ásia, e a Alemanha e a França, na Europa.
Segunda: a Rússia conseguirá estabilizar a sua posição internacional continuando a explorar a janela de oportunidade energética (o seu domínio no gás natural), não entrando em declínio acentuado, ao contrário do que acontecerá com os EUA e Reino Unido. O Japão é, aliás, um dos "entalados" desta transição vivendo o drama de uma bifurcação de opções - "a certa altura poderá ter de escolher entre equilibrar o poder da China ou aliar-se a ela".
O relatório do NIC adoptou um método original de cenários apoiando-se em quatro narrativas ficcionadas.
Conclusões fundamentais do estudo
- Globalização "made in Asia". A globalização em 2020 terá uma face sobretudo asiática e deixará de ser colada ao domínio norte-americano. De "made in USA" passará a ser associada a "Rising Asia"
- O cenário de globalização (apelidado de modelo de "Davos") será mais favorável para o desenvolvimento económico que o de "Pax Americana"
- Há o perigo de reversão da globalização, tal como aconteceu na segunda década do século XX. Doenças pandémicas, movimentos anti-outsourcing nos países desenvolvidos perdedores, medo e insegurança face ao terrorismo de massa e nas redes, proteccionismo com controlo dos fluxos de tecnologia, revolta dos países pobres perdedores, ressacas nas economias superaquecidas (China e Índia, sobretudo)
- Os grandes ganhadores na balança de poder serão a China, Índia, Alemanha e França, segundo as simulações realizadas por Barry B. Hughes com base na sua ferramenta de simulação de cenários "International Futures"
- O peso da Ásia poderá implicar que os ganhadores asiáticos passem a definir os standards industriais, relegando para segundo plano os ocidentais. Implicará, também, a emergência de pólos de retenção e atracção de talento, invertendo o actual "brain drain" a favor dos EUA, Reino Unido e outros países europeus. As multinacionais baseadas no conhecimento adequarão as suas estratégias de investigação & desenvolvimento a esta nova realidade
- Um cabaz de divisas asiáticas - iene japonês, renmimbi chinês, rupia indiana - tornar-se-á prática comum
- Os grandes mercados consumistas deslocar-se-ão para os emergentes, especialmente China e Índia, na medida em que se consolidar o peso das classes médias, que se poderão transformar nas maiores do mundo em termos numéricos. As multinacionais ligadas ao consumo adequarão as suas estratégias a esta nova realidade de mudança em países hoje pobres