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    Os vitoriosos do Japão pretendem abandonar as reformas de mercado

    Mishima
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    Os vitoriosos do Japão pretendem abandonar as reformas de mercado Empty Os vitoriosos do Japão pretendem abandonar as reformas de mercado

    Mensagem  Mishima Ter Set 01, 2009 5:38 pm

    O partido de oposição do Japão conquistou uma vitória esmagadora nas eleições de domingo, prometendo aumentar o bem-estar social, uma maior proteção aos trabalhadores e eliminar as reformas pró-mercado, ao estilo americano, para retirar o país de sua longa recessão.

    Mas apesar do possível primeiro-ministro, Yukio Hatoyama, ter atraído os eleitores com sua promessa de se afastar das reformas de mercado "excessivas" dos últimos anos, muitos economistas daqui dizem que o Japão pode precisar de mais desregulamentação ao estilo americano e crescimento liderado pelo mercado, e não menos, para revigorar sua economia estagnada.

    "Reforma se tornou uma palavra ruim" na política japonesa, disse Richard Jerram, economista-chefe para o Japão da Macquarie Securities.

    "O Japão agora está mais relutante do que nunca em usar as forças do mercado para aumentar a produtividade", ele disse. "Mas essas mudanças são cruciais."

    Em um manuscrito que circulou pelas rodas empresariais e diplomáticas, Hatoyama, o líder do Partido Democrático do Japão que deverá se tornar o primeiro-ministro quando o partido assumir o poder neste mês, ataca o capitalismo ao estilo americano como sendo "destituído de morais ou moderação" -uma praga que o Japão deve evitar a todo custo.

    "A recente crise econômica resultou de uma forma de pensar baseada na idéia de que a economia de livre mercado ao estilo americano representa uma ordem econômica universal e ideal", escreveu Hatoyama em um recente artigo de opinião, publicado inicialmente em uma revista mensal japonesa e posteriormente na edição online do "The New York Times".

    Hatoyama, entretanto, pareceu recuar de sua linguagem dura um dia após sua vitória eleitoral.

    O artigo de opinião "não representa uma forma de pensar antiamericana", ele disse ao "The Yomiuri Shimbun", o maior jornal do Japão.

    A vitória do jovem partido sobre o Partido Liberal Democrata, que governou o Japão por quase toda a história pós-Segunda Guerra Mundial, ocorre em meio a uma grande reação contra o que muitos eleitores daqui consideram reformas danosas defendidas pelo ex-primeiro-ministro Junichiro Koizumi. As reformas, que coincidiram com a inclinação para políticas pró-mercado nos Estados Unidos, incluíam liberalização do rígido mercado de trabalho do Japão e forçar os bancos a suspenderem seu apoio a empresas "zumbis" altamente endividadas.

    Os democratas argumentam que essas medidas, que visavam tirar o país de um longo período de crescimento baixo ou negativo, podem na verdade ter enfraquecido ainda mais a economia. Eles também argumentam que a dependência excessiva das exportações, assim como de outros laços econômicos estreitos com os Estados Unidos, expôs o Japão aos efeitos devastadores da crise financeira global.

    "Nós estamos no meio de uma crise econômica, e há a sensação de que a crise se originou nos Estados Unidos, foi culpa dos autores de política americanos e que outros países estão pagando o preço pelas políticas erradas", disse Steven Vogel, um professor de ciência política da Universidade da Califórnia, em Berkeley. "Aí se encontra a base para uma plataforma política bastante atraente."

    Os democratas deverão formar uma coalizão com os socialistas e o conservador Novo Partido do Povo - partidos menores que decididamente são contrários às reformas de mercado- o que poderia reforçar esta tendência de soluções lideradas pelo governo para a crise econômica.

    A plataforma dos democratas centra-se em iniciativas como ajuda em dinheiro para famílias terem filhos e menores impostos sobre a gasolina. Essas políticas poderiam promover o início da recuperação ao estimular o fraco consumo no Japão.

    O Partido Democrático também prometeu retirar poder dos burocratas ministeriais para assegurar que os gastos reflitam mais estreitamente as necessidades da população. Mas os líderes do partido não disseram muito sobre como tratar da produtividade, ou da contínua batalha do Japão com a deflação, ou da nuvem de uma dívida pública imensa.

    O Japão pode ser famoso por suas indústrias manufatureiras competitivas, impiedosamente eficientes - como a produção "just-in-time" da Toyota, na qual as partes são entregues no momento da montagem para manter os estoques baixos. Mas seu setor de serviços doméstico, que corresponde a 70% da economia, é uma confusão ineficiente e excessivamente regulamentada, dizem empresários e economistas.

    A reação contra a reforma preocupa empreendedores como Hideo Sawada, que forçou a abertura do enclausurado setor de aviação civil doméstico do Japão em 1998, com a Skymark Airlines, a primeira nova companhia aérea do país em 43 anos.

    Após anos de demora por parte do governo japonês, a Skymark recebeu permissão para voar apenas meio dia antes do horário previsto para decolagem de seu primeiro voo. Onze anos depois, a companhia aérea ainda não recebeu licença para voos internacionais.


    "Fazer qualquer coisa nova no Japão representa lidar com um pesadelo de licenças, regras e direitos adquiridos", disse Sawada. "Para o Japão crescer, e para permanecer competitivo, ele precisa tratar seriamente da abertura de setores claramente retrógrados. Eu tenho a sensação de que os democratas não veem isso como uma prioridade."

    Muitas regras datadas protegem empresas ineficientes, enquanto o empreendedorismo é reprimido por barreiras desajeitadas. Os economistas dizem que a assistência excessiva do governo a empresas de pequeno e médio porte minimiza a pressão da concorrência.

    O estado das coisas é um legado de uma política industrial, elaborada sob o governo do Partido Liberal Democrata de saída, que há muito se concentra em aprimorar a competitividade do setor manufatureiro japonês voltado às exportações. As políticas ajudaram a promover o rápido crescimento econômico do Japão no pós-guerra e alimentaram sua bolha econômica até seu estouro em 1990. O restante da economia, em comparação, foi relativamente protegido tanto pela concorrência internacional quanto doméstica.

    Agora, com uma população que está envelhecendo rapidamente e quase sem imigrantes, o Japão deve aumentar sua produtividade, dizem os economistas.

    "Se a população não está crescendo, então não há outra forma de avançar a não ser cada trabalhador ser mais produtivo", disse Hideo Kumano, economista do Instituto Dai-Ichi de pesquisa em Tóquio. "Mas isso não está acontecendo, pelo menos na maioria das áreas da economia."

    A fragilidade da economia japonesa voltada às exportações foi acentuada na crise financeira global: o colapso nas exportações do Japão em meio à queda da demanda por carros e aparelhos eletrônicos causou uma queda anualizada de 11,7% no produto interno bruto do país nos três primeiros meses do ano.

    A economia apresentou uma recuperação de 3,7% no último trimestre, com o aumento das exportações; mas os economistas duvidam que a recuperação, provocada pelos gastos de estímulo em todo o mundo, seja sustentável.

    A evidência de baixa produtividade está por toda a parte no Japão: múltiplos frentistas se aglutinam ao redor de carros nos postos de gasolina para limpar vidros e coletar o lixo; a adoção de tecnologia da informação nos escritórios japoneses é surpreendentemente baixa, com os trabalhadores ainda lidando com documentos e arquivos de papel.

    O índice de desemprego do Japão está na alta recorde de 5,7%, e poderia estar em 12% se não fosse um programa de subsídio do governo que encoraja as empresas a manter um excesso de funcionários, segundo um recente relatório da Nomura Securities.

    "Os democratas estão se afastando do caminho da reforma, mas não vejo o que poderia ocupar seu lugar", disse Toshio Nagahisa, diretor executivo da Instituto de Pesquisa PHP, um grupo de pesquisa com sede em Tóquio, em um fórum recente.

    "No momento, eu tenho dificuldade em prever o futuro do Japão."
    http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2009/09/01/ult574u9641.jhtm

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