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Uma imagem que se desfaz
A Toyota levou sete décadas para construir uma imagem de eficiência, mas uma série de recalls desde novembro levou a empresa à pior crise de sua história
Fundada em 1933, a Toyota demorou 75 anos para construir uma reputação de qualidade que lhe conferiu, em 2008, a liderança mundial da indústria automobilística, posição ocupada pela General Motors durante oito décadas. Mas foram necessários apenas quatro meses para causar estragos profundos na imagem da montadora japonesa. Desde outubro, quando a empresa iniciou o que o mercado vem chamando de surto de recalls, cerca de seis milhões de veículos foram convocados para retornar à fábrica para o reparo de falhas mecânicas. Segundo estimativas, os prejuízos financeiros gerados pelos recalls, que atingem a empresa principalmente nos Estados Unidos e na Europa, podem chegar a US$ 5 bilhões.
O impacto negativo na reputação da Toyota já pôde ser sentido em janeiro: as vendas da empresa nos Estados Unidos totalizaram 98,7 mil unidades, queda de 16% em relação ao mesmo mês de 2009.
A performance negativa da Toyota teve um sabor especial para a Ford, que no mês passado recuperou o segundo lugar no mercado americano - ultrapassou a própria Toyota -, aumentando suas vendas em 25%. Na GM, a alta de vendas foi de 14% no mesmo período. "O dano à reputação da Toyota é significativo, já que ela construiu sua marca em cima da qualidade e confiança", diz Dennis Virag, presidente da consultoria americana Automotive Consulting Group. "O recall deve custar uma perda de participação no mercado americano de 2% ou 3% em 2010."
Discretos como monges budistas, os japoneses da Toyota foram obrigados a vir a público pedir desculpas. "Sentimos muitíssimo por termos provocado essa desagradável situação aos nossos clientes", disse na tevê japonesa Akio Toyoda, que há sete meses assumiu a presidência mundial da empresa fundada por seu avô.
O presidente da montadora nos Estados Unidos, Jim Lentz, foi mais enfático."Espero que vocês nos deem a chance de recuperar a sua confiança", apelou, em uma mensagem gravada para o YouTube. A Toyota se transformou num símbolo planetário de eficiência graças ao chamado "Sistema Toyota de Produção", modelo que consiste numa cadeia de suprimentos enxuta, flexível e altamente terceirizada, que prevê a eliminação quase total dos estoques e a busca pela agilização do processo produtivo. Ironicamente, a suspeita que paira sobre a empresa é que ela teria falhado justamente naquilo que a consagrou - nos seus métodos produtivos.
Segundo a empresa, as falhas nos carros foram provocadas por um problema no apoio do pedal de aceleração, que pode ficar preso ou retornar muito devagar à posição de repouso, e pelos próprios tapetes de alguns modelos, que saem da posição original e enroscam no acelerador. Teria a Toyota acelerado o seu sistema de produção para atender ao aumento veloz da demanda, aumento esse que a levou à liderança mundial? A empresa, por enquanto, tem sido evasiva nas justificativas. "Estamos examinando a situação e nos preparando para dar uma explicação", disse o presidente.
Quando assumiu o comando da montadora, Toyoda foi perguntado a respeito de alguns problemas que já apareciam nos carros da empresa nos Estados Unidos. Sua resposta deixou algumas dúvidas no ar. "Não acho que erramos em expandir os negócios para atender às necessidades de clientes no mundo inteiro, mas talvez tenhamos ido mais longe do que deveríamos", disse Toyoda. Enquanto trabalha na solução, a Toyota anunciou a suspensão das vendas nas concessionárias e a interrupção da produção de oito modelos que representam 65% das vendas nos Estados Unidos. Dois dos carros que estão no recall, o Camry e o Corolla, estão entre os campeões de vendas da montadora no país.
A concorrência está atenta às falhas da Toyota. Na semana passada, concessionárias da Ford e da GM anunciaram um desconto de US$ 1 mil para qualquer um que quisesse trocar um Toyota por seus modelos.
fonte
http://www.terra.com.br/istoedinheiro/edicoes/644/artigo161912-1.htm
A Toyota levou sete décadas para construir uma imagem de eficiência, mas uma série de recalls desde novembro levou a empresa à pior crise de sua história
Fundada em 1933, a Toyota demorou 75 anos para construir uma reputação de qualidade que lhe conferiu, em 2008, a liderança mundial da indústria automobilística, posição ocupada pela General Motors durante oito décadas. Mas foram necessários apenas quatro meses para causar estragos profundos na imagem da montadora japonesa. Desde outubro, quando a empresa iniciou o que o mercado vem chamando de surto de recalls, cerca de seis milhões de veículos foram convocados para retornar à fábrica para o reparo de falhas mecânicas. Segundo estimativas, os prejuízos financeiros gerados pelos recalls, que atingem a empresa principalmente nos Estados Unidos e na Europa, podem chegar a US$ 5 bilhões.
O impacto negativo na reputação da Toyota já pôde ser sentido em janeiro: as vendas da empresa nos Estados Unidos totalizaram 98,7 mil unidades, queda de 16% em relação ao mesmo mês de 2009.
A performance negativa da Toyota teve um sabor especial para a Ford, que no mês passado recuperou o segundo lugar no mercado americano - ultrapassou a própria Toyota -, aumentando suas vendas em 25%. Na GM, a alta de vendas foi de 14% no mesmo período. "O dano à reputação da Toyota é significativo, já que ela construiu sua marca em cima da qualidade e confiança", diz Dennis Virag, presidente da consultoria americana Automotive Consulting Group. "O recall deve custar uma perda de participação no mercado americano de 2% ou 3% em 2010."
Discretos como monges budistas, os japoneses da Toyota foram obrigados a vir a público pedir desculpas. "Sentimos muitíssimo por termos provocado essa desagradável situação aos nossos clientes", disse na tevê japonesa Akio Toyoda, que há sete meses assumiu a presidência mundial da empresa fundada por seu avô.
O presidente da montadora nos Estados Unidos, Jim Lentz, foi mais enfático."Espero que vocês nos deem a chance de recuperar a sua confiança", apelou, em uma mensagem gravada para o YouTube. A Toyota se transformou num símbolo planetário de eficiência graças ao chamado "Sistema Toyota de Produção", modelo que consiste numa cadeia de suprimentos enxuta, flexível e altamente terceirizada, que prevê a eliminação quase total dos estoques e a busca pela agilização do processo produtivo. Ironicamente, a suspeita que paira sobre a empresa é que ela teria falhado justamente naquilo que a consagrou - nos seus métodos produtivos.
Segundo a empresa, as falhas nos carros foram provocadas por um problema no apoio do pedal de aceleração, que pode ficar preso ou retornar muito devagar à posição de repouso, e pelos próprios tapetes de alguns modelos, que saem da posição original e enroscam no acelerador. Teria a Toyota acelerado o seu sistema de produção para atender ao aumento veloz da demanda, aumento esse que a levou à liderança mundial? A empresa, por enquanto, tem sido evasiva nas justificativas. "Estamos examinando a situação e nos preparando para dar uma explicação", disse o presidente.
Quando assumiu o comando da montadora, Toyoda foi perguntado a respeito de alguns problemas que já apareciam nos carros da empresa nos Estados Unidos. Sua resposta deixou algumas dúvidas no ar. "Não acho que erramos em expandir os negócios para atender às necessidades de clientes no mundo inteiro, mas talvez tenhamos ido mais longe do que deveríamos", disse Toyoda. Enquanto trabalha na solução, a Toyota anunciou a suspensão das vendas nas concessionárias e a interrupção da produção de oito modelos que representam 65% das vendas nos Estados Unidos. Dois dos carros que estão no recall, o Camry e o Corolla, estão entre os campeões de vendas da montadora no país.
A concorrência está atenta às falhas da Toyota. Na semana passada, concessionárias da Ford e da GM anunciaram um desconto de US$ 1 mil para qualquer um que quisesse trocar um Toyota por seus modelos.
fonte
http://www.terra.com.br/istoedinheiro/edicoes/644/artigo161912-1.htm
